sexta-feira, 27 de maio de 2011

A lealdade de um homem dá mais poder a uma mulher do que menstruar ou, no extremo oposto, gerar vida. Filhos mamam, desmamam e, depois, vão viver seus destinos. Já meu homem, não. Meu homem fará juras de amor até no leito de morte.

E é esta certeza que me dá altura e peso.

Que me faz olhar as mulheres que empunham drinks de vodga a sua volta e, simplesmente, ignorar. Praticamente inexistem.

E esta certeza é tão forte... tão forte, meu querido, que nem me importa muito, se quer saber, tê-lo em minha cama ou não. Fator secundário.

Dou de ombros e sigo tranquila porque o tenho.
Sim, eu o tenho.

Enquanto escreve distraído suas anotações diárias, você é meu. Quando desce à padaria para comprar pão e leite de manhã, também é meu. Se respira ou tosse, idem.

Esteja onde estiver, com quem quiser, da maneira que bem entender... é dentro de mim que está.

Dentro!

Pode fingir à vontade... fazer que não vê... usar de toda artimanha possível! Isto só serve para fortalecer ainda mais a minha certeza. A que, francamente, querido, você não me esquece.

Não-me-esquece.
Sua,
Dolores

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Se não nos anistiarmos o mundo não terá a generosidade de fazê-lo. Pois eu anistio você, anistio a mim, anistio todos os bentevis que nos cercam quando o outono se revela verão e o verão se traveste de primavera. Assim são os países tropicais. Assim somos nós, tropicalistas de araque, vagabundos, poetinhas...Não, prometi que iria anistiar nossos sonhos interrompidos e não jogá-los em moinhos de trigo que nem pães vão gerar. Não sei como aquele bilhete escapou. Eu estava numa anti-sala, em jejum, ia doar semem e, talvez por nervosismo, solidão, sei lá o que, escrevi aquilo. Aquilo que prometi a você que jamais escreveria porque, porque, porque o que não acontece não é história. A história é feita de fatos e não de idéias e nossos fatos são abastados, concorda? Concorda que estamos escrevendo essa vida com V maiúsculo. Não, eu não queria deixar esse bilhete na portaria do seu trabalho com a canção do Macalé, Jards na cabeça. Movimento dos Barcos, a que você deixou escrita para mim no dia em que me deixou. Porque...porque é triste. E nós não somos tristes, apesar do seu poema, belo e triste. Que confusão. Beijos.



Estou Cansada

E Você Também

Vou Sair Sem Abrir A Porta

E Não Voltar Nunca Mais

Desculpe A Paz Que Lhe

Roubei

E O Futuro Esperado Que

Nunca Lhe Dei

É Impossível Levar

Um Barco Sem Temporais

E Suportar A Vida Como Um

Momento Além Do Cais

Que Passa Ao Largo Do

Nosso Corpo

Não Quero Ficar Dando

Adeus

As Coisas Passando

Eu Quero É Passar Com Elas

E Não Deixar Nada Mais Do

Que Cinzas De Um Cigarro

E A Marca De Um Abraço No

Seu Corpo

Não, Não Sou Eu Quem Vai

Ficar No Porto Chorando

Lamentando O Eterno

Movimento Dos Barcos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ao filho que não tivemos
A saída do colégio que jamais viverá
O uniforme passado que não deixarei sobre a cama
A autorização do passeio que não assinarei


Ao filho que não tivemos
Nenhum beijo roubado na porta da escola
Nenhum show de rock
Ou bronca
no seu primeiro porre.

Ao filho que não tivemos, meu amor
Minha apreensão em noite febril
Cobertor, suadouro
O banho morno
Troca de fronhas, lençóis

Ao filho que não tivemos
O nome que imaginei mas não lhe dei
E a espiada entre as cortinas
Ao leve ronco de motor na garagem

Ao filho que não tivemos
Nenhum mico ou saia justa
Dos embalos pueris da puberdade
Nem fossa ou bagulho em quarto trancafiado

Ao filho que não tivemos
Nem jantar nem papinha
Nem foto, bolo de aniversário
Ano Novo ou Natais

Ao nosso filho
Nosso rebento

Apenas meu amor
Todo o meu amor

Em meu ventre vazio
Seu esperma guardado
....................................

E meu pedido de perdão
Pietá ao contrário.





Em 22.04.11
Sexta da Paixão
Você estava com os olhos mais marejados dos que os de Capitu quando me revelou tudo aquilo, à sombra daquela árvore na Quinta da Boa Vista. Principalmente quando abriu a bolsa, pegou um envelope onde estava escrito "positivo" no papel timbrado. Estava comovida porque eu falei de meu amor por você, meu amor por mim, meu amor por nossos filhos, que planejamos ter, criar, perpetuar nossa espécie, enfim. Tudo ia bem naquela manhã/tarde, quando pegamos o pedalinhos e singramos o pequeno lago da Quinta contando nossa própria história. Depois, comprei uma pipa e pus no ar, bem alto, celebrando o fato de sermos mãe e pai em breve.

Quando voltamos para casa, em silêncio no táxi, tive o ímpeto de perguntar "em que você está pensando?", mas a presença do motorista me inibiu. Ele poderia achar que sou um homem controlador, fascista afetivo, essas coisas, e não apenas momentaneamente curioso. Você levava nas mãos um buquê de flores que comprei daquele sujeito que ficava ao lado do vendedor de algodão doce. "Tony, sua elegância me comove", você disse. Fiquei sem jeito, perguntei se iria chover e acariciei seu ventre. Aí, durante a semana, o fato novo. Você decidiu tirar a pipa do ar e, com ela, meus sonhos, perspectivas, aquela blá blá blá todo. Prometi te compreender, te entender, acompanhar seu raciocínio. Tentei, mas....não deu. Beijos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ah, meu querido, agora eu me rendo porque dessa vez você trouxe às entrelinhas lembranças realmente felizes. Márcia Flores... minha doce e inseparável prima de carnavais e acampamentos. A quem ensinei a beijar como manda o figurino e a notar os rapazes com olhos de águia.


Dito e feito, deduziria um desavisado.



Mas, não. Quer por azar quer por ironia dos contextos, Flores foi parar em mãos desajeitadas e inexperientes e, desiludida dos alardeados dotes masculinos, já quase debandando para o outro lado do prazer, foi iniciada por você, meu amor. Sim. Eu disse a ela que lhe daria um homem de presente e foi com indescritível felicidade que o dei, assim... como quem oferece um licor. E saboreei cada momento daquela noite voyeur. Bebi va-ga-ro-sa-men-te cada cena.


Perfeita. Como foram perfeitas nossas madrugadas clandestinas, repletas de becos, marquises, ruas sem saída, luzes sorrateiras. Éramos dois perdidos farejando inferninhos. Praticamente uma gangue. Exatamente isso, Tony: uma gangue. Não sei em que letra de minha carta você entendeu que nosso sexo não era, ele também, parte central de nossa história. Era, meu amor. É. Caso contrário, eu não seria a Sua Dolores. Sou. Sua.
Dolores, acabei de ler sua resposta. De novo, uma bronha. De novo sua imagem real, sua seiva, seu hálito, o colo do seu útero estufado e pedindo mais, mais, mais a minha glande. Vontade de pegar você agora, mamar sua boca, lambuzar seus seios, cruzar com você até o sábado de aleluia. Mas, estou em Maricá demarcando uma Área de Proteção Ambiental. Não, não é nenhuma metáfora relacionada com uma garota virgem. É uma APA mesmo.


Percebo que minha saudade aumenta. Sinto pelo zíper da calça que, forçosamente, tenho que abrir. Também te amo. Sinto pelas frases curtas cheias de pontos. Ponto. Também te clamo. Aliás, até agora não entendi porque paramos de nos embolar nas restingas espinhosas, como gostávamos de fazer. Passamos a nos levar a sério e, eu sempre gritei, que levar amor e sacanagem a sério brocharia até o mais tarado dos escravos reprodutores de Isabel, a princesa.



Provavelmente você sequer sabe onde moro atualmente. Aliás, para ser franco, nem sei se você vai receber essa minha resposta porque estou usando internet 3 G que, como se sabe, é uma joça. Mas, não custa tentar. Tentar é o que mais fiz e faço com você. Tentar ser seu amante, concubino, já que não tive a oportunidade de desvirginá-la como sempre desejei. Certo, você me deu aquela sua prima de Itaperuna para compensar, ficou na poltrona assistindo, tudo bem, mas eu queria que fosse você. Sua prima é gostosa sim. Não vou cuspir no hímem que rompi, mas mais do que você não há. Porque somos porcos. Ambos. Só pensamos em sacanagens que fariam corar até Rabelais.



Mas, caímos na vidinha. Posso falar, Dolores? Posso mesmo? A grande verdade é que paramos de foder e passamos a fazer amor. Largamos as delícias da escada de serviço e entramos no elevador social. Destrepamos tudo. Não estou dizendo que o sexo é a base de uma relação. Estou afirmando! É bem diferente. Sem sexo, nada é possível. Nada. Com sexo, tapa na cara faz golfar, xingamentos se tornam poemas, coito anal eventualmente vira prato principal e o amor...O amor brota daquela poça que fica no meio da cama. Poça branca, meio magenta, com cheiro de liberdade. Volte! Tony.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Quantas máscaras é preciso para construir um desejo. Ou. À custa de quantas concessões se permite chegar um à fronteira do outro. Quando julgamos ter passado um limite, mergulhamos, na verdade, em mais um engodo, outro jogo de espelhos a refletir nossos próprios segredos. E medos.

Eu encarno a mulher que quiser, Tony, para você. A devoradora de homens, a devoradora de mulheres, a casta sapata marrenta servil. Do jeito alucinado que o amo, seria capaz de representar até a mim mesma.

E me desespero ao imaginar que você poderia não distinguir a verdadeira da falsa. E se apaixonar pela “persona” a ponto de eu me perder de mim. Só para amá-lo ainda mais.

Preciso de você para saber quem sou, você sabe. Para saber, inclusive, de que teor é a minha libido: prostituta, ferina, blasé?

Visualizá-lo se masturbando pensando em mim... seja onde for... faz minha vaidade feminina se encher de ares exóticos, olhos e boca delineados com os líquidos que saem de suas fantasias carnavalescas. Eu, a mulher que o leva a se masturbar... e quanto mais visualizo isso, mais meu olhar se inflama e minha boca entreabre... Sim, goza, meu amor...

Goza sem mim.

Sua, Dolores.